Eis uma pequena curiosidade sobre a minha pessoa: sofro de androfobia, medo de homens, mas não de todos os homens, apenas daqueles psicopatas que julgam que está bem perseguir uma mulher quando ela não mostra o mínimo de interesse e acham que isso é um incentivo para não largá-las de vista.
Eis a razão:
Quando tinha 14 anos tive um marado dos cornos, 10 anos mais velho, a perseguir-me por onde me metia os olhos. No início não prestava atenção, na minha arrogância de adolescente julguei que fosse um admirador, simplesmente ignorava-o. No entanto, ignorar era sinómino de interesse da minha parte para o filho-da-puta-marado-dos-cornos. Se no início de um ano eu ignorava-o completamente, no ano seguinte já havia descoberto o número de telefone da minha casa pelas páginas amarelas e ligava constantemente, mesmo com a minha família a lhe desligar na cara, o cabrão insistia. Comecei a sentir uma pontinha de receio e já não podia ouvir um telefone fixo a tocar sem conseguir ficar nervosa.
Certo dia a perseguição foi mais próxima, comigo a andar na rua e ele mesmo atrás a chamar e a perguntar porque não falava com ele quando me achava tão amorosa, era uma atitude típica de perseguidor. Farta da perseguição, gritei-lhe: "Vai morrer longe daqui !" e ele desapareceu.
Respirei de alívio ao julgar que me tinha livrado dele até o momento em que um carro parou de repente ao meu lado numa rua deserta. Era ele! Saíu do carro com uma cara de poucos amigos, deu a volta, abriu a porta do lado do passageiro e tenta agarrar-me no braço. Percebi de imediato que ele era doido varrido, que deveria ter dado mais importância à ameaça que aquele gajo representava e que naquele preciso momento, eu estava em perigo.
O pânico apoderou-se de mim e corri na direcção de uma casa mesmo à frente, toquei à campainha freneticamente e uma senhora apareceu à porta, por sorte era a casa da minha professora de Química. Como que percebendo que eu estava em perigo, abriu a porta rapidamente deixando-me entrar e enfrentou o homem ameaçando que ia chamar a polícia. Depois de passar o choque e explicada a situação, a professora aconselhou-me a fazer queixa na polícia e logo a seguir falou com os meus pais sobre o assunto.
No dia seguinte o estúpido telefonou para casa a ver se era daquela vez que iria conseguir falar comigo mas acabou por ouvir as vozes furiosas dos meus pais a gritar que iam fazer queixa na polícia e iriam a tribunal para que nunca mais se aproximasse de mim.
Até aquele momento nunca me tinha apercebido do perigo que era ter uma espécie de "admirador" um bocadinho demasiado obcecado. A partir daí tive medo do telefone de casa a tocar, de ficar sozinha em casa, de ter alguém atrás de mim na rua. Mas com o passar do tempo e esforço, acabei por superar esse medo.
Hoje, com 26 anos, voltei a sentir o mesmo medo.
No tipo de trabalho que tenho onde envolve atender público, é normal que tenha que ser simpática, ao contrário de alguns funcionários públicos que mostram pouca simpatia. E um utente muito mais velho que costuma aparecer frequentemente, hoje teve a audácia de me passar um papelinho para ler. Nesse preciso momento senti um arrepio na espinha. No bilhete dizia que me achava muito gira, que me queria conhecer melhor e no fim estava o seu número de telemóvel.
De imediato senti o mesmo pânico que senti há muitos anos atrás. A sensação de estar a ser ameaçada. O medo de ter mais um psicopata atrás de mim. Comecei a tremer e pedi para ser substituída naquele posto pois não queria voltar a ver aquele homem quando ele voltasse a passar. Talvez estivesse a exagerar e aquele homem fosse um ingénuo inofensivo que achou que conseguisse ter sorte em ir ao café comigo, no entanto o meu alerta estava no máximo, ele havia-se metido com a miúda errada.
Não me considero fraca e costumo ter as respostas na ponta da língua, mas naquele momento senti uma enorme insegurança e medo, e não consegui dar-lhe a resposta que deveria ter dado de imediato: "Não confunda simpatia e profissionalismo por outra coisa qualquer. A partir deste momento acabou a simpatia para que possa entender a diferença."
Para a semana, se o parvalhão me aparecer à frente, estarei pronta para o enfrentar com esta resposta, e só para o caso, terei um frasco de spray com um molhinho volátil de pimentas caseiras na bolsa. Porque de maluquinhos, está o mundo cheio....